A Escola de Enfermagem do Estado do Rio de Janeiro foi fundada em 18 de outubro de 1944. À época, o interventor estadual Ernani do Amaral Peixoto propunha o incremento da saúde pública e a intensificação do serviço para o saneamento da Baixada Fluminense como prioridades de gestão. Assim, criou centros de saúde, unidades sanitárias de valiosa eficiência para a região e implantou melhoramentos na rede de esgotos hospitalares1. Para executar esse programa sanitário era necessário um grande contingente de profissionais especializados, particularmente da área de saúde. O apoio do governo federal não supriu as necessidades e diante disso, o governo estadual decidiu fundar uma escola de Enfermagem de alto padrão no território fluminense2.

Para efetivar a fundação da Escola de Enfermagem foi preciso reunir esforços financeiros para cobrir o orçamento de CR$ 700.000,00 de capital inicial e CR$ 1.000.00,00 de gastos anuais. Alzira Vargas dispôs de Cr$ 300.000,00 por meio da Legião Brasileira de Assistência (LBA), mesma quantia ofertada pelo Serviço Especial de Saúde Pública (Sesp)3. Ficou decidido que o curso seria realizado em regime de internato, com duração de três anos, e que as alunas seriam admitidas por meio de seleção, que exigia o término do científico, do clássico ou do ensino normal. O estágio ocorreria no Hospital Orêncio de Freitas, no Barreto, mas logo foi estendido para o ambulatório da Faculdade de Medicina, Centro de Saúde de São Lourenço, Hospital Ari Parreiras, este último utilizado para estágio de doenças agudas; e para o Hospital de Obstetrícia, na Maternidade Escola da capital federal4. A moradia das alunas seria no Sanatório Azevedo Lima, que estava em fase final de construção.

A primeira Diretora da Escola de Enfermagem, Dona Aurora de Afonso Costa5, foi indicada por Dona Lays Neto dos Reis, então diretora da Escola Anna Nery, e permaneceu à frente da instituição até 1966. A criação da primeira turma realizou-se no mês seguinte à fundação da escola, quando foram selecionadas 22 alunas, sendo sete do Estado do Rio de Janeiro e as demais do Norte do país. A aula inaugural com a consequente abertura do curso da Escola de Enfermagem foi realizada em 1º de fevereiro de 1945. A solenidade contou com a aula magna proferida pelo Prof. Dr. Marcolino Candeau e versava sobre a história e finalidade da enfermagem. À solenidade compareceram nomes ilustres da política local e nacional6. Essa primeira turma formou-se em 1948, com missa na catedral e cerimônia de diplomação no Teatro Municipal de Niterói.

As dificuldades de manutenção da escola se tornaram críticas em 1949, mas a diretoria não mediu esforços no sentido de contornar essa situação, conseguindo viabilizar a assinatura de um convênio com o Serviço Nacional de Tuberculose (SNT) e negociar uma ajuda financeira com a Prefeitura de Niterói, que contribuiu com CR$ 120.000,00. Nesse período, a escola realizou campanha de divulgação e oferecia bolsas de estudo, por meio do Serviço Estadual de Saúde Pública (Sesp) e do Serviço Nacional de Tuberculose (SNT)7, mas mesmo assim o número de candidatas decresceu.

A Escola de Enfermagem do Rio de Janeiro iniciou um bom período, com a volta de Vargas ao poder federal8 (1951-1954). O acordo com o Serviço Nacional de Tuberculose foi renovado, e os estágios no Hospital Azevedo Lima, assim como no Hospital Psiquiátrico Pedro II, do Engenho de Dentro, retornaram. Nesse contexto, a lei federal 775 de 6 de agosto de 1949 foi aprovada no Conselho Nacional de Educação, criando o curso de Auxiliar de Enfermagem, favorecendo a formação de profissionais para trabalhar no Hospital Antônio Pedro9. Em 1951, a escola obteve outras conquistas, com o retorno de Adelmo Mendonça à Secretaria Estadual de Saúde; ele, que outrora já incentivara o nascimento e crescimento da Escola de Enfermagem, solicitou por meio da Secretaria de Saúde e Assistência, a organização de cursos intensivos de auxiliares de enfermagem, e essas estudantes foram as designadas para atuar no Hospital Psiquiátrico de Jurujuba e no Hospital de Tuberculose de Campos, mostrando a importância dessa escola para o estado.

Em 1954, a escola já contava com 91 alunas e recebia importantes visitas, como a de M. E. Tennant, da Divisão Técnica de Enfermagem da Fundação Rockfeller, que objetivava a discussão sobre o convênio da escola com o Serviço Estadual de Saúde Pública (Sesp), e a identificação de meios para a construção de uma nova sede ou para a reforma da antiga10.

A morte de Vargas, em 195411, seria um golpe quase fatal nos empreendimentos políticos e sociais implantados por seu grupo político, e de fato atingiu alguns planos da Escola de Enfermagem de construir a sua sede e ter maior equilíbrio financeiro12. A partir de então, as dificuldades para efetivar projetos se aprofundaram e se mantiveram até o processo de união e federalização em 196013. Durante esse período, vale também destacar o importante papel da Escola no Congresso Brasileiro de Higiene que ocorreu em Niterói, em 195914.

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Notas

1 COSTA, Rafael Navarro. As memórias do Comandante: Amaral Peixoto e a política fluminense. Revista Histórica, São Paulo, n. 35, abr. 2009. Disponível em: <http://www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/anteriores/edicao35/materia06.html>. Acesso em: 11 out. 2012. 

2 Nomes como Zilda Lima, Denise Torres e Yonita Ascenso Torres, merecem ser destacados pela participação durante esse processo de criação. (Cf.FERNANDES, Cléa Alves de Figueiredo. A História da Escola de Enfermagem do Rio de Janeiro (1944-1964) UFERJ. Niterói: [s.n.], 1964. p.10-11).
3 As bases de sustentação da escola seriam: Estado, Secretaria Especial de Saúde Publica e a LBA, e foram importantes os contatos com a Faculdade Fluminense de Medicina. Outros colaboradores ao longo dos primeiros anos foram o Serviço Nacional de Tuberculose e os EUA, por meio da participação da Sesp e da política de Boa Vizinhança, fornecendo apoio financeiro e conhecimento. (Cf. FERNANDES, 1964, p. 10).
4 Em 1946, a escola enfrentou problemas financeiros que acabaram repercutindo no campo didático, uma vez que o Hospital do Barreto estava impróprio para o campo de estágio. Nesse mesmo ano, foram iniciadas as negociações com a Prefeitura visando à utilização do Hospital São João Batista, mas a crise financeira aumentou, em virtude da diminuição da participação financeira da LBA. (Cf. FERNANDES, 1964, p. 13).
5 Carismática, a enfermeira Aurora Afonso Costa era muito esmerosa no cargo de diretora da faculdade, cargo ocupado por ela durante décadas. Responsável e dedicada, Dona Aurora era firme, querida por todos e lutou para o sucesso da Escola de Enfermagem. (Cf. AURORA DE AFONSO COSTA – DO SONHO À REALIDADE. Produção de Ana Alice de Morais. Niterói: Produzido pelo Instituto de Arte e Comunicação Social da UFF, 1994. 1 DVD.
6 FERNANDES, 1964, p. 15.
7 FERNANDES, 1964, p. 20.
8 FERREIRA, Marieta de Moraes. Niterói poder: a cidade como centro político. In: KNAUSS, Paulo e MARTINS, Ismênia de Lima. Cidade múltipla: temas de história de Niterói. Niterói: Niterói Livros, 1997. p. 73-100.
9 FERNANDES, 1964, p. 22.
10 FERNANDES, 1964, p. 24.
11 AZEVEDO, Marlice Nazareth Soares de. Niterói urbano: a construção do espaço da cidade. In: KNAUSS, Paulo; MARTINS, Ismênia de Lima (Org.). Cidade múltipla: temas de historia de Niterói. Niterói: Niterói Livros, 1997. p. 19-72.
12 FERNANDES, 1964, p. 26-27.
13 Entretanto, podemos citar alguns pontos positivos neste período, a saber: a qualidade do estágio de Pediatria no Hospital Getúlio Vargas Filho, no Fonseca, e a mudança do currículo de 36 meses corridos, para quatro anos, com três meses de férias anuais e em 1959, a direção da escola conseguiu aprovar o decreto 6.463 de 9 de janeiro, e passou a estar vinculada novamente à Secretaria de Saúde e Assistência, tentando mais uma maneira de enfrentar os problemas financeiros. (Cf. FERNANDES, 1964, p. 32).
14 FERNANDES, 1964, p. 34.

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