Os primeiros anos da República foram marcados por turbulências e instabilidade que acabaram por atingir a cidade de Niterói. A instabilidade política ficava visível com destaque para a disputa de poder entre as oligarquias do estado, onde predominava o grupo político de Nilo Peçanha e os conhecidos “nilistas”1.

A Revolta da Armada causou muitos estragos na cidade; entre setembro e dezembro de 1893 foram inúmeros os bombardeios e ataques dos revoltosos, fatos que evidenciavam a fragilidade da capital do antigo Estado do Rio de Janeiro para lidar com acontecimentos graves. Estes fatos influenciaram muito no processo de transferência da capital2 para Petrópolis através de decreto de 5 de fevereiro de 1894, aprovado pela Assembleia dos Deputados. A essa altura, Niterói perdeu também a sede do bispado, que foi transferida para Campos dos Goytacazes3. No entanto, após a turbulência da revolta, cresceu o movimento em prol da volta da capital para Niterói nos anos que se seguiram, e contava-se com o apoio de políticos como Quintino Bocaiúva4, Baltazar Bernardino e Nilo Peçanha. Em 20 de junho de 1903, Niterói voltou à condição de capital e centro político do estado, de acordo com o decreto 801 de 6 de junho do mesmo ano, permanecendo como tal até 19755, quando a proposta de fundir o antigo Estado do Rio com o Estado da Guanabara saiu-se vitoriosa, iniciativa esta dos governos militares e que contava com apoio de setores do empresariado e políticos cariocas6.

Observamos que nas duas primeiras décadas do século XX, o Estado do Rio de Janeiro e sua capital enfrentaram grandes desafios na área da saúde, registrando constantes surtos de doenças contagiosas, dentre elas, a varíola (1907), peste bubônica e tuberculose (1908). Essa incidência de doenças preocupava e causou muitas mortes nesse período, e em parte pode ser explicada pelas condições insalubres e falta de saneamento básico, aos quais muitos habitantes estavam expostos e que estavam sendo combatidas por meio de políticas de urbanização7,obras de saneamento, calçamentos, aberturas de ruas e parques implementadas pela Prefeitura.

O esforço de modernização da capital tornou-se conhecido como “Renascença Fluminense”8 e foi iniciado durante o curto governo do prefeito Paulo Alves, de janeiro a novembro de 19049, buscando facilitar “o viver na cidade” e alcançar uma condição de maior equilíbrio em relação ao Rio de Janeiro, cidade vizinha, então capital da República que também passava por reforma estruturais, administrada por Pereira Passos. A modernização niteroiense se intensificou durante o governo do prefeito Pereira Ferraz (1906-1910)10 e buscou, assim como a Reforma Passos para o Rio, dar a Niterói ares das cidades modernas europeias como Paris, como o embelezamento e planejamento urbanístico oriundos dessa inspiração, melhorias na área de saneamento, abertura de vias, dentre outros feitos.

Durante esse período, a Zona Norte intensificou seu desenvolvimento industrial11, com a presença das primeiras fábricas de médio e grande porte, e seus trabalhadores, muitos vindos do interior do estado e de outros pontos do país, enquanto a elite da capital se concentrava nos bairros do Fonseca, Centro, Icaraí e Ingá. Neste último, ficava localizado o Palácio do Ingá – sede do governo, a partir de 190412.

A educação também ganhou destaque na capital fluminense, sobretudo entre os anos de 1910 e 1926, período em que o ensino secundário foi ampliado tanto na capital quanto nas cidades do interior, e quando foram estabelecidas a Faculdade de Farmácia e Odontologia do Estado do Rio de Janeiro (1912), a Faculdade de Direito (1912) e a Faculdade Fluminense de Medicina (1926), na cidade de Niterói13.

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Notas

1 SOARES, Emmanuel de B. Macedo de. História política do Estado do Rio de Janeiro (1889-1975). Niterói: Imprensa Oficial, 1987. p. 19-21.
2 A possibilidade de mudança da capital em caráter provisório estava prevista na Constituição aprovada em 1892, caso surgisse algum tipo de acontecimento grave. Com os bombardeios iniciados em setembro de 1893, a Assembleia Legislativa ficou fechada até dezembro do mesmo ano, quando voltou a funcionar, na cidade de Petrópolis. Cf. WEHRS, Carlos. Niterói, Cidade Sorriso: a história de um lugar. [s.n.], Rio de Janeiro, 1984, p. 90.
3 WEHRS, 1984, p. 90.
4 Quintino Bocaiúva foi presidente do Estado entre 1900 e 1903. Cf. WEHRS, 1984, p. 90.
5 FERREIRA, Marieta de Moraes. Niterói poder: a cidade como centro político. In: KNAUSS, Paulo; MARTINS, Ismênia de Lima. Cidade múltipla: temas de história de Niterói. Niterói: Niterói Livros, 1997. p. 97.
6 FERREIRA, 1997, p. 97.
7 WEHRS, 1984, p. 77-78.
8 MAIA, Luiz. Breve história de Niterói. [2012?]. Disponível em: <http://luizmaia.webnode.com/news/breve-historia-de-niteroi.html> Acesso em: 8 abr. 2013.
9 GUIA DA HISTÓRIA DE NITERÓI. 2010. Disponível em: <http://www.niteroitv.com.br/guia/niteroi_historia.asp> Acesso em: 8 abr. 2013.
10 SOARES, Emmanuel de B. Macedo de. A prefeitura e os prefeitos de Niterói. Niterói: Êxito,1992, p. 27-31.

11 AZEVEDO, Marlice N. Soares de; PEROVANO, Rosana; MONTEIRO, Denise Marinho. Niterói: Planos e Projetos para uma Capital na Velha República. In: SEMINÁRIO DE HISTÓRIA DA CIDADE E DO URBANISMO, 6., 1996, Rio de Janeiro. Anais...1996. Rio de Janeiro: [s.n.], 1996. v. 1. p. 41
12 SOARES, Emmanuel de B, p. 43-44.
13 Quintino Bocaiúva foi presidente do Estado entre 1900 e 1903. Cf. WEHRS, 1984, p 90.

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